EFEITO DA SAZONALIDADE DO INVERNO NO NÚMERO DE INTERNAÇÕES POR BRONQUITE, ENFISEMA E OUTRAS DOENÇAS PULMONARES OBSTRUTIVAS CRÔNICAS POR REGIÃO DO BRASIL DE 2020 A 2024

Resumo

Introdução: A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) tem a característica de ser percebida, tanto pelos pacientes, quanto pelos médicos assistentes, como uma condição que se exacerba mais nos meses de inverno. Estudos suportam essa suspeita e inclusive definem outros fatores de risco individuais que trazem ainda mais risco para o aparecimento da crise e para sua gravidade, como idade mais avançada, menor índice de massa corporal, menor Volume Expiratório Forçado no Primeiro Segundo (VEF₁) e maior incidência de exacerbações no ano anterior. Todavia, dados para determinar a magnitude do efeito do inverno têm sido escassos.  Objetivos: Analisar a distribuição da porcentagem de hospitalizações por DOPC ocorridas nos meses de inverno (junho, julho e agosto) em relação ao restante do ano nas diferentes regiões do Brasil entre 2020 e 2024, e identificar regiões que sofram mais com a sazonalidade da exacerbação da doença.  Métodos: Estudo descritivo e retrospectivo, sobre a hospitalização da DPOC, estratificando-a por regiões do Brasil e meses, a partir do Sistema de Informações sobre Morbidade Hospitalar do DATASUS.  Resultados: Entre 2020 e 2024, observou-se no Brasil um aumento da proporção de internações por DPOC ocorridas nos meses de inverno em relação ao total anual, passando de 21,17% em 2020 para um pico de 30,21% em 2023, seguido de uma leve redução para 28,88% em 2024. A análise por regiões revelou que, no Norte, a proporção subiu de 17,85% em 2020 para 25,41% em 2021, mantendo-se relativamente estável nos anos seguintes e finalizando 2024 com 26,48%. No Nordeste, o percentual aumentou progressivamente de 19,16% para 28,74% em 2023, com pequena redução para 27,53% no último ano. No Sudeste, verificou-se crescimento contínuo até 2023, quando atingiu 31,40%, reduzindo-se para 29,71% em 2024. A Região Sul apresentou os maiores valores do período, chegando a 32,29% em 2022 e mantendo-se elevada em 2023 (30,95%), encerrando 2024 com 29,51%. Já o Centro-Oeste variou de 20,13% em 2020 para 27,97% em 2024, com pico em 2023 (27,62%).  Conclusão: Os dados analisados evidenciam que a sazonalidade do inverno exerce influência significativa sobre as internações por DPOC no Brasil, com uma proporção consistente e expressiva de casos concentrados entre junho e agosto em todas as regiões. Apesar de variações anuais, o padrão geral mostra um aumento da participação relativa do inverno nas hospitalizações ao longo do período estudado, com destaque para os anos de 2022 e 2023, que apresentaram os maiores percentuais. A Região Sul se destacou com os valores mais elevados, possivelmente refletindo condições climáticas mais frias e secas, que favorecem exacerbações. Esses achados reforçam a importância de estratégias preventivas sazonais, como intensificação de medidas de controle de fatores de risco, otimização do tratamento de manutenção e ampliação da cobertura vacinal antes do inverno, visando reduzir o impacto dessa estação nas hospitalizações por DPOC.