NEM TUDO QUE CAVITA É TUBERCULOSE
Palavras-chave:
Tuberculose, Cavitação, Histoplasmose, Micobacteria, AdenocarcinomaResumo
Introdução Lesões cavitadas pulmonares são achados comuns na radiologia torácica e trazem amplo possível diagnóstico diferencial. Em regiões endêmicas para tuberculose, como o Rio de Janeiro, lesões cavitadas trazem forte suspeita de tuberculose pós primária, já que até 45% dos casos apresentam-se com cavitação. Esse viés cognitivo pode levar a tratamento empírico equivocado e atraso diagnóstico em casos com diagnóstico alternativo, podendo trazer dano ao paciente. Trazemos uma série de três casos atendidos no serviço de pneumologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE/UERJ) com lesões cavitadas cuja investigação revelou um diagnostico alternativo à tuberculose. Relato do Caso Paciente de 31 anos do sexo feminino que se apresentou com dor pleurítica à direita e a tomografia (TC) de tórax revelou lesão cavitada solitária em lobo superior direito. Na investigação realizou-se broncofibroscopia (BFC) com coleta de lavado broncoalveolar (LBA), no qual a pesquisa para tuberculose e outros microrganismos foi negativa. O diagnóstico final foi obtido através de biopsia por radiologista intervencionista (RI) que revelou granuloma com necrose e presença de Histoplasma capsulatum. Foi tratada com 12 meses de itraconazol com excelente resposta clínica e radiológica. O caso seguinte é de uma paciente de 63 anos tabagista com diagnóstico prévio de enfisema pulmonar que se apresenta com dor torácica à direita. Na TC de tórax foi identificada lesão cavitada em lobo inferior direito de 4,8 cm com paredes espessadas. Na investigação com BFC e LBA, observou-se baciliscopia positiva com teste rápido molecular (TRM) negativo para tuberculose e a biopsia de lesão mucosa apresentou infiltrado granulomatoso com necrose. Iniciou esquema com rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol (RIPE) empírico e, posteriormente, a cultura para micobactérias revelou o diagnóstico de infecção pela Mycobacterium intracellulare. Nesse momento foi suspenso o esquema RIPE e iniciado tratamento com Rifampicina, Etambutol e Claritromicina com boa resposta clínica e radiológica. Por fim, paciente de 43 anos, não tabagista que se apresentou com tosse e perda ponderal. A TC de tórax evidenciou uma lesão cavitada de paredes espessas em lobo inferior esquerdo próxima ao hilo pulmonar. Inicialmente, foi tratada com esquema RIPE empírico sem resposta. Prosseguiu-se a investigação com biopsia da lesão por RI, cuja análise histopatológica revelou adenocarcinoma pulmonar. Foi, então, suspenso o esquema RIPE e tratada com radioterapia e múltiplos ciclos de quimioterapia, com progressão de doença e evolução para óbito em 2 anos. Discussão Nesta série de casos, foram avaliadas três pacientes do sexo feminino, com idades entre 31 e 63 anos. Com diagnósticos distintos: histoplasmose pulmonar, infecção pulmonar por micobactéria não tuberculosa e adenocarcinoma pulmonar. Lesões cavitarias pulmonares apresentam uma ampla variedade de diagnósticos diferenciais, incluindo neoplasias, infecções e doenças autoimunes. Nesse contexto, ressalta-se a relevância da anamnese minuciosa e da exclusão dos principais diagnósticos diferenciais antes do início de terapias empíricas, e se iniciados de forma empírica, reavaliação do caso quando não há melhora clínica ou tomográfica.


