EXISTE CORRELAÇÃO ENTRE A AVALIAÇÃO DIAFRAGMÁTICA PELA ULTRASSONOGRAFIA DO TÓRAX E OS PARÂMETROS FUNCIONAIS EM PACIENTES COM HISTÓRIA PRÉVIA DE COVID-19?
Keywords:
Condição pós-COVID-19, Covid-19, ultrassonografia pulmonar, diafragma, estudo funcional pulmonarAbstract
INTRODUÇÃO: A ultrassonografia torácica é cada vez mais utilizada como uma importante ferramenta à beira do leito, trazendo informações importantes acerca do comprometimento do parênquima pulmonar, pleura e diafragmático. O diafragma é o principal músculo da respiração, com diversas doenças podendo causar sua disfunção. Entretanto, geralmente é subdiagnosticada na prática clínica em virtude de sua apresentação inespecífica. A mobilidade diafragmática pode ser avaliada pela medida da excursão diafragmática, enquanto que a capacidade contrátil do diafragma é avaliada pela fração de espessamento (FE%). Uma parcela significativa de pacientes apresentam condição pós-COVID, variando em prevalência de 10% a 30%, mesmo após 12 meses da doença aguda, sendo a dispneia o sintoma mais prevalente. OBJETIVO: Correlacionar as medidas do diafragma mensuradas pela ultrassonografia torácica (excursão diafragmática e fração de espessamento) com os parâmetros funcionais pulmonares. MÉTODO: Estudo observacional analítico e transversal, conduzido com 77 pacientes, adultos, diagnosticados com COVID-19 atendidos no ambulatório do HUAP/UFF. Os pacientes realizaram estudo funcional pulmonar e avaliação ultrassonográfica do diafragma 20 meses após a infecção aguda pelo SARS-COV-2, seguindo-se as Diretrizes e Recomendações Nacionais (SBPT). Foi realizada uma primeira análise dos 77 pacientes, onde se identificou a prevalência de condição pós-covid por sintomas respiratórios (dispneia, tosse e dor torácica) 20 meses após a infecção aguda pelo SARS-COV-2. Em uma segunda análise foram comparadas as variáveis funcionais respiratórias (CVF%, VEF1/CVF, VEF1%, CPT%, SRaw% e DCO%) e diafragmáticas (excursão com respiração normal, ExcNB; profunda, ExcBD; e Fração de espessamento, FE%) entre os dois grupos, com e sem PCC. Uma última análise foi realizada, onde se analisou a correlação entre os parâmetros funcionais e diafragmáticos. Foram utilizados os testes: Test-T, Exato de Fisher e Qui-quadrado para a análise estatística (SPSS v.20.0). Resultados com significância estatística com p<0,05. Projeto aprovado pelo CEP/UFF (CAAE: 76628417.0.0000.5243). RESULTADOS: Dos 77 pacientes avaliados, 54 (77)% eram do sexo feminino, com média de idade 56,69±14,28 anos, peso77,56±14,94 kg, altura de 1,61±0,08m, IMC 29,73±5,09 kg/m²). Dos 77 pacientes, 11 (14,3%) apresentavam PCC por sintomas respiratórios, sendo a dispneia presente em todos os pacientes. Não ocorreu diferença estatística entre os paciente com PCC e sem PCC para internação hospitalar na fase aguda da doença (p=0,135), internação no CTI (p=0,820), necessidade de O2 (p=0,379) e necessidade de ventilação mecânica (p=0,774). No estudo funcional foram encontrados para CVF%: 102 ± 21,10; VEF1/CVF 95,00 ± 11,92; VEF1% 98,00 ± 22,11; CPT% 89,32 ± 20,29; DCO% 79,97 ± 19,92; sRaw% 59,67 ± 27,17. Os valores de CVF% (p=0,026), VEF1% (p=0,044) e DCO% (0,046) foram menores no grupo PCC. Acerca dos parâmetros diafragmáticos foram encontrados para ExcNB: 1,89±0,51cm, ExcBD: 4,23±1,22cm e FE% 89,67±38,76. Ocorreu correlação significativa para ExcNB e CVF% (r=0,258, p=0,024), VEF1% (r=0,253, p=0,027), além de ExcDB e CVF% (r=0,284, p=0,011). Não ocorreu correlação significativa entre FE% e as variáveis funcionais pulmonares. Não ocorreu diferença com significância estatística nas variáveis diafragmáticas entre os grupos PCC e não PCC (ExcNB, p=0,201; ExcBD p=0,082 e FE%, p=0,617). CONCLUSÕES: A prevalência de PCC por sintomas respiratórios foi identificada em 14,3% da amostra. As medidas diafragmáticas apresentaram correlação com significância estatística para ExcNB e CVF% (r=0,258, p=0,024) e VEF1% (r=0,253, p=0,027), assim como para ExcDB e CVF% (r=0,284, p=0,011), demonstrando que a medida ultrassonográfica poderia ser um método complementar em pacientes com impossibilidade de realização de manobras respiratórias forçadas no estudo funcional pulmonar, além de ser uma importante ferramenta para a análise diafragmática.


