A EXPOSIÇÃO AOS CRISTAIS DE SÍLICA INTERFERE NO RISCO DE TUBERCULOSE?
Keywords:
Silicose, Silicotuberculose, Tuberculose, Pneumoconiose, Exposição ocupacionalAbstract
Introdução: A silicose voltou a ganhar relevância devido ao aumento do número de casos associado ao manejo de pedras artificiais, amplamente utilizadas na confecção de bancadas de banheiros e cozinhas. Nesse sentido, é fundamental revisitar sua principal complicação, já evidenciada pelo termo silicotuberculose. Além de apresentar elevada prevalência e incidência, principalmente no estado do Rio de Janeiro, a tuberculose também é um fator de agravo para silicose, pois promove a aceleração da doença fibrosante pulmonar. Diante disso, estimar a prevalência dessa importante complicação em pacientes com silicose torna-se essencial para um melhor manejo clínico da doença. Objetivos: Avaliar a prevalência de tuberculose em pacientes com história de exposição à sílica em seguimento regular no ambulatório de Pneumologia do Hospital Universitário Antônio Pedro – UFF. Métodos: Estudo descritivo, transversal e analítico com 87 pacientes com história de exposição à sílica. Foram analisados os parâmetros: sexo, idade (anos), tempo de exposição à sílica (TE) em anos, classificação radiológica (simples e complicada) de acordo com a OIT, variáveis espirométricas (CVF%, VEF1/CVF, VEF1%), além da prevalência de tabagismo e tuberculose. Adicionalmente, foi avaliada a frequência de casos de tuberculose entre pacientes com silicose simples e complicada. Os dados foram expressos em média, desvio-padrão e frequências. Para análise estatística foi utilizado o software SPSS 22, onde se utilizou o Test-T para comparar as médias, além do exato de Fischer e Quiquadrado para a análise das frequências. Resultados com p-valor <0,05 foram considerados com significância estatística. Este trabalho foi aprovado pelo CEP do HUAP-UFF (CAAE: 73685317.1.00005243). Resultados: Dos 87 pacientes, todos são do sexo masculino. Quanto à classificação radiológica pela OIT, 9 (10%) eram apenas expostos, 25 (29%) apresentavam silicose simples e 53 (61%) complicada. As médias e desvios-padrão para idade (59,7±7,80 anos), tempo de exposição TE (21,15±8,25 anos), CVF% (78,95±19,31), VEF1/CVF (66,66±13,74) e VEF1% (65,47±23,42). A prevalência de tuberculose foi de 52% (45 pacientes), dentre esses, 15 (33%) pacientes possuíam diagnóstico de silicose simples e 30 (67%) pacientes silicose complicada. Não ocorreu diferença na frequência de tuberculose entre os grupos silicose simples e silicose complicada (OR=1,17; 95%IC 0,41-3,40; p=0,749). A tuberculose pulmonar foi a mais prevalente com 71% (32 pacientes). A história de tabagismo ocorreu em 60% (52 pacientes). O distúrbio ventilatório obstrutivo foi o mais prevalente com 42 (48%) pacientes. Conclusão: Os achados deste estudo reafirmam a estreita relação entre a silicose e a tuberculose. Diante do cenário epidemiológico do Rio de Janeiro, um dos estados com maior taxa de mortalidade por tuberculose, o diagnóstico dessa infecção deve ser sempre cogitado em indivíduos com silicose, uma vez que a tuberculose é a principal complicação infecciosa da silicose e os sintomas das doenças podem se sobrepor. Tal ocorrência evidencia a importância de os profissionais da saúde saberem reconhecer os sintomas e as particularidades dessa associação, a fim de evitar o subdiagnóstico.


