VARIÁVEIS PREDITORAS ASSOCIADAS A MORTALIDADE DE PACIENTE COM COVID-19, EM VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA

ESTUDO DE COORTE RETROSPECTIVO OBSERVACIONAL

Resumo

Introdução: Pacientes com COVID-19 podem evoluir para intubação orotraqueal (IOT) e ventilação mecânica invasiva (VMI) na unidade de terapia intensiva (UTI). Diversas variáveis clínicas podem estar associadas ao desfecho desfavorável (maior mortalidade) desses pacientes, tanto na admissão hospitalar, quanto durante a internação. Objetivo: Identificar variáveis preditivas associadas à mortalidade em pacientes com COVID-19 submetidos à VMI. Métodos: Trata-se de um estudo de coorte observacional retrospectivo realizado em duas UTIs de hospitais universitários (CAAE: 31062620010015259). Foram coletados dados na admissão hospitalar e no primeiro dia de VMI. Na admissão, registraram-se dados demográficos, comorbidades, Escore Simplified Acute Physiology Score (SAPS) 3, parâmetros hemodinâmicos, função respiratória, gasometria e hemoglobina. No primeiro dia de VMI, foram coletados dados sobre febre, hemodinâmica, função respiratória, gasometria, tempo de internação, tempo até a VMI e tempo sob VMI. Foram utilizados testes t ou Mann-Whitney para variáveis contínuas e qui-quadrado ou teste exato de Fisher para proporções. Consideramos os dados significativos quando p<0,05. Resultados: Dos 1841 pacientes avaliados, 267 foram incluídos (193 não sobreviventes [NS] e 74 sobreviventes [S]). Na admissão, a mortalidade foi maior em homens e em pacientes com idade mais avançada (65 anos). O SAPS 3 foi significativamente maior no grupo NS (47 vs. 38,5; p<0,0001). As comorbidades mais frequentes nos grupos NS e S, respectivamente, foram: doença renal crônica (20% vs. 9%; p=0,04) e diabetes (69% vs. 55%; p=0,005). Em relação aos sinais vitais na admissão, o grupo NS apresentou valores significativamente menores de frequência respiratória (24±1,6 vs. 26±0,97 irpm; p<0,02), comparado ao grupo S. Na gasometria arterial, os valores do pH (7,40±0,02 vs. 7,43±0,01; p=0,04) na admissão e Bicarbonato no pós intubação (21,7±2,54 vs. 24,3±0,82; p=0,002), foram significativamente menores no grupo NS em comparação ao grupo S. O lactato foi maior na pré (1,77±0,46 vs. 1,30±0,22; p=0,04) e pós (2,29±0,99 vs. 1,30±0,42; p=0,02) intubação. A hemoglobina foi menor tanto na admissão (11,04±1,64 vs. 12,68±0,38 g/dL; p<0,0001) quanto no primeiro dia após a intubação (10,8±2,65 vs. 12,01±2,17 g/dL; p=0,001), assim como o hematócrito, menor na admissão (33,5±4,96 vs. 38,4±1,12 %; p<0,0001) e no primeiro dia após intubação (33±7,6 vs. 36±6,9 %; p=0,001), no grupo NS comparado ao S. O fosfato (3,96±0,72 vs. 3,24±0,27 mg/dL; p=0,008) apresentou valores maiores na admissão, no grupo NS quando comparado ao grupo S.  Em contrapartida, a creatinina (2,12±0,69 vs. 1,43±0,31 mg/dL; p=0,02) e a ureia (72,78±56 vs. 47,4±36 mg/dL; p=0,001) foram maiores no grupo NS do que no S, tanto na admissão, quanto no primeiro dia após a intubação. Conclusão: A idade avançada, o sexo masculino, a presença de comorbidades (diabetes, hipertensão, doença renal crônica), SAPS 3 elevado e alterações hemodinâmicas, gasométricas e hematológicas na admissão foram associados à mortalidade em pacientes com COVID-19 ventilados mecanicamente.