EFEITO DA IMUNOSSUPRESSÃO PROLONGADA SOBRE A FUNÇÃO PULMONAR EM TRANSPLANTADOS RENAIS
Palavras-chave:
Transplante Renal, Função Pulmonar, ImunosupressãoResumo
Introdução: Pacientes submetidos a transplante renal permanecem em uso contínuo de imunossupressores, o que pode impactar a função pulmonar mesmo na ausência de sintomas respiratórios. Alterações subclínicas, especialmente na capacidade de difusão pulmonar para monóxido de carbono (DLCO), têm sido descritas, podendo evoluir para comprometimento funcional persistente. Objetivo: Avaliar o efeito da imunossupressão prolongada sobre parâmetros funcionais respiratórios em pacientes transplantados renais estáveis, identificando possíveis padrões de comprometimento e fatores de risco associados. Método: Estudo transversal realizado com pacientes adultos e pediátricos submetidos a transplante renal há mais de 12 meses e com enxerto estável. Foram coletados dados clínicos, fatores de risco e resultados de testes de função pulmonar (espirometria, DLCO corrigida para hemoglobina, fluxo expiratório máximo e força muscular respiratória). Em casos selecionados, realizaram-se ultrassonografia pulmonar para quantificação de linhas B e tomografia computadorizada de tórax para investigação de alterações estruturais. Os resultados foram comparados a valores previstos para sexo, idade e altura. Resultados: Foram avaliados pacientes com média de 6,2 ± 3,8 anos de transplante. A redução da DLCO (<80% do previsto) foi observada em 72% dos indivíduos, sugerindo lesão microvascular pulmonar de baixo grau e redução crônica da perfusão pulmonar. Alterações espirométricas restritivas foram identificadas em 15% dos casos e obstrutivas em 9%, sendo mais frequentes em pacientes do sexo masculino e naqueles com histórico de infecções virais (principalmente BK vírus). Em 6% dos participantes, a tomografia revelou bronquiectasias, associadas a sintomas respiratórios recorrentes. A ultrassonografia pulmonar detectou congestão subclínica (linhas B ≥ 3 por campo) em 18% dos pacientes, correlacionando-se a hipertensão diastólica e menor DLCO. O uso de inibidores de mTOR esteve relacionado à melhor preservação da perfusão pulmonar em análise exploratória. Conclusão A imunossupressão prolongada em transplantados renais estáveis está associada a alterações funcionais pulmonares detectáveis, predominantemente na difusão gasosa, mesmo em indivíduos assintomáticos. A monitorização sistemática, com ênfase em DLCO e espirometria, pode permitir detecção precoce de disfunção e orientar ajustes terapêuticos, prevenindo complicações respiratórias irreversíveis. O rastreamento deve ser priorizado em pacientes com fatores de risco como infecções virais, hipertensão diastólica e histórico de imunodeficiência.


